19 janeiro 2019

508 - Eu digo, tu escreves, ele sopra

Reflexo novembro 1993

Andei uns dez anos - mais ou menos - a escrevinhar no Reflexo. Antes, já o tinha feito noutros jornais da sede do concelho. Fiz "coberturas" jornalísticas em várias Assembleias de Freguesia e outras atividades, nomeadamente das associações da Vila. Sempre - e este sempre é mesmo sempre – separei o relato e a notícia, do comentário, que muitas vezes fazia ao lado da própria notícia.

Colaborei em algumas entrevistas, dentro e fora de portas, e nelas, juntamente com o(s) meu(s) Colegas de jornal, coloquei as questões que entendia pertinentes, confrontei os entrevistados com posições assumidas, mas sempre dentro da maior urbanidade e tentando que o leitor ficasse o melhor esclarecido possível.

Hoje, as coisas não funcionam assim. Saem parangonas que, depois de passar ao texto, nada têm a ver com o título. Crucifica-se. Esfola-se. Mata-se. Tudo em prol do que chamam de informação. Sensacionalismos, digo eu. Fazem-se julgamentos, acusa-se, sem o menor problema e não pensando no leitor, que estamos a induzir em erro. Apenas o eu, o sensacionalismo, a bomba, a calúnia, interessam. O artista não é o entrevistado, é o entrevistador.

Com os facebooks passa-se algo de parecido, mas mais tenebroso. Não só anonimamente, mas com perfis de quem não tem perfil, ataca-se tudo que mexe, desde que não seja da nossa opinião. E não interessa que estejam a fazer as coisas bem, nem o que é necessário, nem o que deve ser feito. Tudo o que “os outros” fizerem é mau. E se for preciso contradizer-se 2, 3, 10 vezes, não há problema. O pobo tem fraca memória - pensam eles - e não se lembra do que (não) fizemos. É preciso é camionetas de areia, para deitar para os olhos dos mais incautos.

Mas – como gosta de dizer o Vereador das Finanças – o caminho faz-se caminhando e, quando chegarmos ao fim, vamos fazer as medições.

E eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.

13 janeiro 2019

507 - A legitimidade do quarto poder.

Imagem: ibmec.br
Nos compêndios da Ciência Política, ou até nos da quarta classe, diz-se que temos três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judicial. O primeiro com eleição direta; o segundo por eleição daqueles que o foram diretamente; e o terceiro pela Lei e pelos seus pares. Não vou falar sobre estes três, mas sobre aquele a que se entendeu designar de quarto. Não quarto de dormir, nem da hierarquia, mas quarto poder: a Comunicação Social.

Um elemento necessário à sociedade, um bem de que todos queremos usufruir e que, alguns, querem pôr e dispôr. A CS é necessária. A Imprensa é necessária e toda ela tem lugar na sociedade: a escrita (no papel), a falada e a audiovisual. Em qualquer uma delas, temos de separar a notícia da opinião. Nem sempre é fácil, não porque sejamos menos letrados ou instruídos, mas porque os autores, por ignorarem o verdadeiro jornalismo ou por interesses, misturam a notícia e a opinião, baralhando o leitor menos atento.

Mas, e ainda dentro da escrita e na subdivisão notícia, há os que procuram a notícia e os que adulteram a notícia. Com o imediatismo dos dias de hoje, há pessoas na imprensa, nas relações públicas, na comunicação política, que, facilitando a vida aos órgãos de CS e também no seu próprio interesse, enviam para a CS alertas sobre eventos futuros e até relatos do próprio acontecimento, facilitando assim o trabalho à CS.

Tudo legal, tudo normal, tudo pacífico. O que não é normal, honesto nem ético, é quando se envia um texto,  fornecido com a melhor das intenções, e este é adulterado a bel-prazer por aqueles a quem, a única coisa que se lhes pede, é isenção.
Aceita-se que comentadores políticos puxem a brasa para a sua sardinha, agora, não se aceita que órgãos de CS ou os seus Colaboradores, adulteram o que se lhes fornece.

E eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.

09 janeiro 2019

506 - A (in)dependência ou a falta dela.

Foto: QV.
Todos somos (in)dependentes. Para o bem e para o mal. Todos podemos/devemos dizer e agir da forma que achamos mais correta. Claro que a forma que é a mais correta para mim, pode não ser para o outro, mas isso não me impede de pensar/achar, que a minha é a mais correta. Estive a falar em opções individuais. Estive a falar daquilo que apenas me interessa a mim, ou que a mim diz respeito.

Se as minhas opiniões/convicções, deixam de ser individuais, aí o caso muda de figura. Tenho de as discutir, moldar e conciliar com o pensamento coletivo. O coletivo, o conjunto, ou a sua ideia/opção, terá de ser tomada como minha e eu defendê-la como tal. É o custo de pertencer a organizações democráticas.

Posto isto, passemos à minha interpretação sobre as ideias que eu quero inculcar nos outros. Quero que os outros aceitem as minhas ideias e então, faço trinta por uma linha, para "cativar" o desencontrado e trazê-lo para a minha equipa. Se o convencer a aceitar as minhas ideias, tanto melhor. Se não conseguir, pelo memos que faça parte da equipa.

Vamos passar a outra fase, que será a última que se faz tarde. É eu transmitir a minha ideia, convicção, o que eu acho, o que eu quero, como se não fosse isso, mas antes um pensamento e uma afirmação comum. Como se fosse outro a dizer. Como se eu estivesse "a relatar" o que outro disse, quando, na verdade, era apenas a minha ideia.

Dou um exemplo. Eu digo: - O senhor não repita o insulto. Tenha cuidado com o que diz, quando na verdade, o outro nada disse. O "outro" fica tão estupefacto que nem responde, mas a opinião pública, distraída, até pensa que ele disse. Ah, a opinião pública fica estupefacta e a opinião publicada, publica, porque lhe agrada/quer agradar.

E eu vou andando por aí e, por simpatia, faço de conta que não percebo o que "eles" querem. 


05 janeiro 2019

505 - Continuo a andar por aí.

O Rui Vitória foi embora do Benfica. Os teóricos questionam-se: Foi ele que se despediu? Foi o Benfica que o despediu? Foi por mútuo acordo?

Eu prometo ao meu filho dar-lhe 100€. Por dificuldades, não lhe consegui dar o dinheiro. A minha mulher, porque eu tinha assumido e o rapaz estava a contar com ele, deu-lhe do dela. Eu, embora não sendo teórico, questiono-me: Fui eu que dei o dinheiro? Foi a minha mulher que deu o dinheiro? Fomos os dois?

O meu vizinho costuma dar anualmente, por altura do Natal, 100€ a uma instituição, para ajudar nas despesas. A instituição teve, a meio do ano, problemas e pediu-lhe se poderia contribuir com 300€. O meu vizinho contribuiu. Chegados ao Natal, não deu os habituais 100€, porque já tinha dado 300 extras. Os intervenientes dividem opiniões: O Mecenas diz que deu mais 200€ que o costume. A instituição diz que não recebeu os 100€ do costume.

Nunca fui bom em matemática, mas costumo pensar. E se o primeiro caso apenas serviu para introduzir o tema, no segundo foi a minha mulher que deu o dinheiro e no terceiro a instituição recebeu 200€ a mais que o habitual. E quem disser o contrário, joga de má fé.

E eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.