24 janeiro 2020

521 - As omeletas e os ovos que não há.

Desde pequeno – e apesar de ter nascido e passado os primeiros seis anos de vida, na Pensão Vilas – que a falta de coisas materiais, nomeadamente a comida, não são um OVNI para mim.

Ora a falta de pão; ora de carne; ora do peixe - que não a sardinha – foi algo que fui e vou acompanhando ao longo dos tempos. Sentindo-o na carne – na minha carne – ou vendo-a no semelhante, a falta de, é coisa sempre presente (salvo seja).

Mais espigadote, pelo segundo quartel dos anos 70, era a falta de combustíveis que a todos afligia e também desde essa altura, fui aprendendo, profissionalmente, que sem matéria prima, não é possível entregar o produto acabado.

Trinta anos passados após a assinatura dum contrato a dois na Capela de S. Tomé, ou Igreja Paroquial de Caldelas, tenho confirmado que a falta disto ou daquilo – mesmo que momentânea – é algo que nos constringe os movimentos. Desde essa altura que o “não posso fazer omeletas sem ovos”, entra no meu vocabulário.

A par da falta de meios ditos materiais, toda a gente com experiência de vida – e de boa fé – sabe que a nível doméstico, empresarial ou até desportivo, nada se faz sem planeamento. Planear com o que se tem ao dispor, é tomar opções e ver onde está a urgência, o que tem de ser feito na hora e deixar para mais tarde aquilo que é menos urgente. É urgente ir buscar os ovos à Olivinha da rua do Picão, se quero fazer as omeletas; é urgente ir buscar o pão à padaria para o almoço; é urgente ir buscar ao fornecedor a matéria prima, se quero acabar a obra; é urgente levar o filho ao médico, se ele está doente; é urgente comprar umas chuteiras, ou patins, para o atleta que não tem.

Menos urgente será ir buscar flores para colocar na sala; comprar vinho de marca; comprar carrinha nova para levar mercadoria; levar o filho a passear; comprar uma vitrina para colocar as taças.

A gestão corrente, da nossa casa, empresa ou clube desportivo é feita de opções. Opções conscientes. Primeiro o que é urgente, depois o que é menos urgente. As opções serão de quem tem a responsabilidade de as tomar. Para mim boas; para ti más.

O que é difícil, é governar a nossa casa, ou a dos outros, com piadinhas foleiras e de quem tem pouco que fazer.

E eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.

12 janeiro 2020

520 - Partiu um dos MAIS, da minha geração

Nascemos no mesmo ano; convivemos no mesmo Pinheiral; andamos na mesma Escola da cidade.
O Gilinho, sempre foi um dos MAIS, do quarto ano do terceiro quartel do século XX.
Na primária, onde tivemos os primeiros contactos, era dos MAIS desfavorecidos; no recreio foi o MAIS azarento - partiram-lhe a perna a chutar a bola prá frente; passados quatro anos foi o MAIOR classificado e foi "ao prémio"; em Guimarães foi o MAIS classificado, dos poucos que seguimos prá cidade; foi o MAIS rápido - a par de outro(s) a concluir o Curso Geral do Comércio.
Do, e com o, Gilinho tenho muitas histórias. Uma mais ricas outras menos boas. Mas histórias. O Gila sempre andou um passo à frente, em inteligência e conhecimentos, de todos nós. De mim pelo menos. Sempre ombreou com os maiores da EICG: maiores/melhores alunos; mais meninos bonitos ou mais queques, como se diz agora.
Até tinha a ousadia de dançar no Baile, efetuado todos os anos na EICG, enquanto nós, encostados a um canto, sonhávamos "voar nos braços duma bela dama". Passados os anos da Escola, virou pra Pevidém, onde buscava o sustento.
De permeio, conheceu a neta da Zefinha Miranda. Mulher tesa. Responsável pela neta, não lhe dava grande espaço de manobra. Apenas no corredor e... shiu. O gilo até me contou, qual o drama da Zefinha, que um dia o alertou. Isso, fica comigo.
Um rapaz, com uns passos largos, à sua frente. Um dia, numa Assembleia Geral do Taipas, nos anos setenta, os dois sentados lado a lado ao fundo da sala, o Gilinho teve a ousadia de contestar as contas. De lá do fundo, soprou: - Com estas contas, até eu, com o curso geral da Escola, conseguia ter lucro. Claro que ouviu das boas do Padre Manel e eu tive que o fazer aguentar os cavalos, pois o caso poderia dar sério.
Impetuoso, sabedor, amigo, o Gilinho nos últimos tempos foi-se abaixo. Tentou aguentar. Para isso teve o apoio da Fátima, que com quatro "rezas" à sua moda, o conseguia animar. Como ele, passou estes últimos meses em angústia e trabalhos. A sua casa vai ficar mais só e o jardim... vai ter menos um cuidador.

02 janeiro 2020

519 - Taipas Turitermas.

Participei hoje ao cair da tarde, início de noite, numa Assembleia Geral da Cooperativa Taipas Turitermas. Mais uma de tantas outras a que venho assistindo desde que, em dezembro de 1985, adquiri por PTE1.500,00, a quantidade mínima de títulos pela qual me seria permitido participar nas assembleias.
Esta Cooperativa formada para prosseguir os objetivos que a Empresa Termal das Taipas não conseguiu, poderemos dizer que "viu o raiar da aurora" com a nomeação de Manuel Sousa Marques, como Perito Avaliador por parte da CMG, prosseguindo com Manuel Ferreira, Carlos Remísio, José Luís Oliveira e por último Ricardo Costa.
Outros tempos, outras formas de gestão, outras ideias, mas poderemos dizer que a cooperativa ficou marcada pelo arranque com Manuel Ferreira - que abraçou a causa como se de um Taipense se tratasse; pela gestão cautelosa de Carlos Remísio - que governou praticamente sem investimento do acionista maioritário; e, finalmente, pela  impetuosidade de Ricardo Costa que, encontrando um barco a navegar em águas calmas (acomodadas?) não hesitou em lançar-se ao alto mar para pescar peixe graúdo. E conseguiu: a Câmara investiu, fundos foram negociados, projetos foram trabalhados e a obra apareceu.
Após dez anos a representar a Câmara, Ricardo Costa deixa a Taipas Turitermas. Deixou um legado. Deixou obra. Pode orgulhar-se - e todos os Taipenses de boa fé também - do trabalho realizado pela sua equipa. Sai o Ricardo Costa e David Ribeiro. Entram António José Oliveira (neto do acionista principal da Empresa Termal) e Miguel Sousa (ex-autarca de Ponte e ex-Chefe de Gabinete de Domingos Bragança).
Agradecimento a todos os que tiveram responsabilidades naquela casa. Felicidades à nova equipa, chefiada por José Maia Freitas, que está na direção desde 2009.
Tudo se conjuga - estou confiante - para nos continuarmos a orgulhar da Cooperativa.

E eu vou andando por aí e, porque sou otimista/realista, continuarei a orgulhar-me.