22 julho 2020

539 - O Jornaleiro, espécie em vias de extinção.

Mercê da minha bonita idade, passei por diversas transformações da sociedade/vida dos portugueses e, portanto, da minha. Na juventude e até aos 17 anos, os meses de verão eram passados na Piscina da Junta de Turismo onde, entre dois mergulhos nas horas mais calmas, atendia os Clientes no BAR, que meu Pai era arrendatário e a minha Mãe “a Patroa”.

Naquele local conheci e convivi com diversas mulheres e homens que, nos meses de verão, angariavam meios de subsistência para passar um inverno mais confortável: A Joaquina “Coturela”, a Rosa Magalhães, a Rosa da S’ Claudina, a Rosinha Jabeis, a S’ Maria Emília e tantas outras.

Nos homens o Sr. Neves, o Francisco, o S’David, o S’ Manel Duarte, o irmãos Bento e Custódio Cunha, o Américo, o Joaquim “Pito” e outros mais. Com todos convivi e com o Zé Pereira (filho da S’ Margarida Brinca) aprendi a fazer as palavras cruzadas, arte em que ele era exímio.

Durante todo o ano o Ti Manel Padre Santo deambulava, dia e noite, entre “o motor” e o resto do parque, ora vigiando para que a água não faltasse na Piscina, ora impedindo que nós fossemos às castanhas.

Na parte exterior, já não me lembro se todo o ano se apenas no verão, tínhamos os Jardineiros e os Jornaleiros. Na classe dos primeiros, ou na primeira classe, o sempre resmungão João “do talho”, para quem nada estava bem. Os jornaleiros, outra classe, cuidavam da limpeza do Parque e dos recintos desportivos, mas não mexiam no Jardim. O S’ Manel “Chouriço” e o Ser’António (de Souto) são os que melhor guardo na memória.

Esta última classe, “Os Jornaleiros”, paulatinamente foi perdendo preponderância. As pessoas deixaram de ter quintais e “as jornas” deixaram de se realizar, pese embora a classe de jornaleiros não fosse extinta e ainda hoje exista, mas noutras missões. Estes jornaleiros eram bons Fazedores de Buracos. De sachola em punho, procuravam e procuram escavar os buracos mais recônditos. Catavam o bicho que, segundo eles, estragava a terra, e adubando-a a seu bel-prazer criavam o cenário para dar o fruto que eles quisessem cultivar/fazer crescer.

Os “Jornaleiros” e os “Fazedores de Buracos” ainda por aí andam, mas a sua missão não é tratar a terra, antes pelo contrário, é criar a aridez, para que os seus serviços não sejam dispensados nem eles caiam no esquecimento e no desemprego.

E eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.


11 julho 2020

538 - Taipas Turitermas.

Documento "coleção privada" de QV

Sem procurar muito e sem dinheiro para colocar alguém a “procurar” por mim, de vez em quando ao tentar arrumar a cave aparecem-me papéis, alguns já velhos e desbotados, mas que têm sempre alguma coisa de atual – caso queiramos que assim seja porque “quando o homem quer…”.

Este, datado de 26/05/1986, é um escrito que enviei para o jornal “O Povo de Guimarães”, onde entrei pela mão de Álvaro Nunes e onde tive outras referências para acompanhamento, nomeadamente o filho do Nicolino-Mor - Rocha também de nome e engenheiro (também) de título.

Este papel é o relato da primeira Assembleia Geral da Cooperativa Taipas Turitermas, criada em 1985 quando Manuel Ferreira era Presidente da Câmara e assumiu a presidência provisória da Cooperativa até as eleições relatadas neste papel/fotografia, que se efetuaram em maio de 1986. No papel destaco a postura do representante do acionista maioritário de não votar qualquer assunto da Assembleia, de modo a deixar na mão dos cooperantes os destinos da Cooperativa.

Quis o destino, ou o acionista maioritário, que o nome Ferreira voltasse a presidir à Cooperativa mais importante do concelho. Depois de Vereadores da Câmara, de um Presidente de Junta, de candidato a Presidente de Junta e de um membro com dez anos de direção da cooperativa, a confiança política para o cargo volta a cair num Vereador. Quando escrevo confiança política é isso mesmo que quero dizer. Numa casa onde eu sou o principal responsável, só posso delegar em quem acredito e confio. Nesta nomeação é apenas de estranhar que as carpideiras, que em mandatos anteriores queriam a Junta de Freguesia a presidir à Cooperativa, agora tivessem esquecido esse pormenor.

Conheço a Vereadora Sofia Ferreira há pouco tempo. Já quanto aos progenitores, o caso é diferente, mercê do mediatismo de um e do trabalho nas Caldas das Taipas de outra. No entanto, nos poucos tempos de convivência, vejo na senhora Vereadora algo mais que a confiança política do Presidente de Câmara. Vejo nela alguém interessado, dialogante, persistente e que será competente para assumir o leme desta nau.

Pela minha parte, e desde 1986, contará com a presença nas Assembleias Gerais e nelas apoiar as medidas que achar boas e discordar das que achar piores. Na sua nomeação tenho uma certeza: fará o melhor que puder e souber, para defender a Cooperativa, mas também as Taipas, o concelho e o nome de quem tornou possível, no longínquo ano de 1985, a reabilitação das Termas das Taipas.

Seja bem vinda, senhora Presidente.

Eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.