Mercê da minha bonita idade, passei por diversas
transformações da sociedade/vida dos portugueses e, portanto, da minha. Na
juventude e até aos 17 anos, os meses de verão eram passados na Piscina da
Junta de Turismo onde, entre dois mergulhos nas horas mais calmas, atendia os
Clientes no BAR, que meu Pai era arrendatário e a minha Mãe “a Patroa”.
Naquele local conheci e convivi com diversas mulheres e
homens que, nos meses de verão, angariavam meios de subsistência para passar um
inverno mais confortável: A Joaquina “Coturela”, a Rosa Magalhães, a Rosa da S’
Claudina, a Rosinha Jabeis, a S’ Maria Emília e tantas outras.
Nos homens o Sr. Neves, o Francisco, o S’David, o S’ Manel
Duarte, o irmãos Bento e Custódio Cunha, o Américo, o Joaquim “Pito” e outros
mais. Com todos convivi e com o Zé Pereira (filho da S’ Margarida Brinca)
aprendi a fazer as palavras cruzadas, arte em que ele era exímio.
Durante todo o ano o Ti Manel Padre Santo deambulava, dia e
noite, entre “o motor” e o resto do parque, ora vigiando para que a água não
faltasse na Piscina, ora impedindo que nós fossemos às castanhas.
Na parte exterior, já não me lembro se todo o ano se apenas
no verão, tínhamos os Jardineiros e os Jornaleiros. Na classe dos primeiros, ou
na primeira classe, o sempre resmungão João “do talho”, para quem nada estava
bem. Os jornaleiros, outra classe, cuidavam da limpeza do Parque e dos recintos
desportivos, mas não mexiam no Jardim. O S’ Manel “Chouriço” e o Ser’António
(de Souto) são os que melhor guardo na memória.
Esta última classe, “Os Jornaleiros”, paulatinamente foi
perdendo preponderância. As pessoas deixaram de ter quintais e “as jornas”
deixaram de se realizar, pese embora a classe de jornaleiros não fosse extinta
e ainda hoje exista, mas noutras missões. Estes jornaleiros eram bons Fazedores
de Buracos. De sachola em punho, procuravam e procuram escavar os buracos mais
recônditos. Catavam o bicho que, segundo eles, estragava a terra, e adubando-a
a seu bel-prazer criavam o cenário para dar o fruto que eles quisessem cultivar/fazer
crescer.
Os “Jornaleiros” e os “Fazedores de Buracos” ainda por aí
andam, mas a sua missão não é tratar a terra, antes pelo contrário, é criar a
aridez, para que os seus serviços não sejam dispensados nem eles caiam no
esquecimento e no desemprego.
E eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.
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