13 agosto 2020

541 - Aborrecidos

Usualmente, passando por alguém e depois do bom dia, boa tarde ou boa noite, "conforme a hora e o local onde nos encontramos" - como dizia o outro - costumo introduzir o "então tudo bem?" ao qual, algumas/muitas das pessoas respondem com um "que remédio", que me deixa sempre baralhado. Por vezes e se a confiança o permite, returco com um "que remédio, não, ainda bem. Que remédio seria se estivesses doentes e... não tivesses remédio".

Sei que as pessoas atiram com a resposta que detesto, sem que a frase queira definir um estado de espírito, mas, muitas vezes, respondemos com a negativa à frente. Resumindo: somos pessimistas por natureza. O pessimismo vem, sempre, antes do otimismo, mesmo que este seja mais forte em detrimento daquele. É feitio. Mau feitio, digo.

Há gente que está sempre enfadada, mal disposta, trombuda e contra tudo e contra todos. É feitio. Mau feitio digo. Lá pela Pensão Vilas, local onde nasci, tinha os dois estados de espírito: minha Mãe sempre pessimista; meu Pai, um otimista por natureza. A minha Mãe seria feitio; o meu Pai seria estado de espírito.

Eu, por vezes, também acordo para o lado contrário. E - por feitio, mau feitio - chego à avenida da República, de trombas e desanimado. Com o passar do dia, as trombas vão desaparecendo e volta o otimismo. Apesar dos pontapés. Apesar das caneladas. Apesar das calinadas. Estas - as calinadas - que ao princípio me aburrem, com o desenrolar do dia, vou "botando elas" pra trás das costas e deixam de ter importância. "São vozes de finos, que não chegam ao inferno." E eu lá vou andando; e muitos lá vão andando; e cada vez mais, lá vão andando. E os das calinadas, vão ficando, cada vez mais sós, mais tristes e mais amargurados. E esses, esses sim, é que têm razão para ficar enfadados, mal dispostos, trombudos e, acrescento tristes, e contra tudo e contra todos.

E eu vou andando por aí e, por simpatia, também vou assobiando.

06 agosto 2020

540 - As férias, por pouco tempo que seja, devem ser para desligar.

Porque o ano é longo e a minha mulher precisa de descansar da lide do COVID19, fomos passar uns dias, muito poucos por sinal, fora da vila termal. O nosso filho esteve cá uns oito dias - qual emigrante dos tempos modernos pois no antigamente era um mês sempre a rufar - e alguém lá por casa, disse que precisávamos de "desligar" pois, de outra forma, não aguentávamos mais um ano.

Para espanto meu, o desligamento decretado era de computador, telemóvel e tudo o mais, que me fizesse manter a ligação ao n.º 479, da Avenida da República.

O decretado é decretado e... bico calado. Assim sendo, muni-me de leitura capaz de bulir com as árvores e despertar da luta de umas partidas de cartas de que, apesar de ter ensinado à minha adversária, levo de vez em quando umas banhadas nada agradáveis.

A verdade é que, de meia dúzia apenas consegui arrumar com dois. Uma semana é pouco. Não chega para nada. De regresso ao quotidiano, mais do mesmo. Blá blá, que não se faz nada. Blá blá que não devia ser assim. Blá blá, que o que ontem era urgência, hoje não presta. Blá, blá, blá.

Despertei para a democracia com 19 anos e meio. Despertei para "O Comércio do Porto" desde que me conheço. Despertei para a colaboração em jornais, com vinte e poucos anos. Despertei para os bloggers, em outubro de 2006 (dois mil e seis). Ainda não consegui despertar para o FB... e já estou cheio dele. Blá, blá, blá. Pessoas com e sem rosto, diariamente, vomitam ódio nesta rede, que se queria social. Criticam por criticar. Mentem por mentir. Aldrabam porque são aldrabões. Mentem porque são mentirosos... e porque ninguém está para se dar ao trabalho de os desmentir.

Que odeiem, que critiquem, que mintam, que aldrabem, que, que, que. Mas, já agora, como dizia Tiago: "Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras."
Eu, com o devido respeito, adapto a frase:
Tu tens a crítica, e eu tenho as obras; mostra-me as tuas obras, e eu aceitarei a tua crítica.

Boas Férias, para quem as tiver.