20 dezembro 2020

542 - 4 meses depois e muitos depois

Todos (?) andamos preocupados com o COVID. Ou, se não andamos, devíamos andar. Eu ando. Muito. A coisa não é para brincadeiras. Mas não vos vou falar/escrever sobre as cautelas a ter com o dito cujo. Não, não tenho competências para tal e, para dar palpites, já anda para aí gente demais. E há palpites a mais. E cada um deles diferente do anterior. O povinho quer é tempo de antena, para covidar e conseguir algum protagonismo. Vou falar não da prevenção mas das causas laterais do bicho.

De vez em quando toca o sino - mais alguém que partiu, mais alguém que nos deixou. Mais algum que deixou a família, a vida, a vila, os amigos. É e será a Lei da Vida: nascer, crescer e partir. Aparentemente tudo normal - é e será a Lei da Vida. No entanto, este maldito COVID, além de originar a partida de alguns, impede-nos de nos despedirmos de quem parte. 

Na estação (Capela de S. Tomé) não podemos dizer o último adeus, confortar os familiares, recordar os bons momentos que passamos, dar aquele abraço aos familiares e derramar a última lágrima sobre os que partem. Tudo proibido, em nome da saúde pública.

No entanto, este não dizer adeus, este não poder confortar e abraçar os familiares e os amigos, parece que nos deixa empedernidos. Em vez de abraçar, encolhemos os ombros e balbuciamos - "Paciência, é a lei da vida". Em vez de presentes, estamos ausentes. E depois, porque o bicho nos impede de andar a vaguear pela rua, sabemos de muitas e muitos que partiram, apenas passados vários dias. Parece que o partir, com mais ou menos idade, passa a ser algo natural, passa apenas a um encolher de ombros. E ao balbuciar: paciência.

Desde estes confinamentos que nos impedem de participar nestas cerimónias, que muitas e muitos de quem eu nos quereriamos despedir, partiram sem o podermos fazer. Sem poder abraçar os familiares, sem contar a última história, sem avivar a última lembrança.

Daqui, deste espaço, um abraço aos familiares dos que partiram, sem que eu pudesse despedir-me.

Sem comentários: